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🍅”O Agente Secreto”: Da Ovação em Cannes à Recepção Morna no Rotten Tomatoes🍅

🍅”O Agente Secreto”: Da Ovação em Cannes à Recepção Morna no Rotten Tomatoes🍅

Um início glorioso em Cannes

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imagem divulgada em: https://www.adorocinema.com

Se você estivesse em Cannes neste domingo, 18, provavelmente teria sentido um arrepio na espinha ao ouvir mais de 10 minutos ininterruptos de aplausos por “O Agente Secreto” , o novo filme brasileiro dirigido por Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Wagner Moura. Uma acolhida digna de clássico, com orquestra popular de Recife tocando frevo no tapete vermelho e um clima de orgulho nacional contagiante.

O longa, exibido fora da competição oficial do festival, entrou para a história como um dos filmes nacionais mais ovacionados recentemente — citando até referências emocionais ao aclamado “Ainda Estou Aqui” . Mas quando as luzes se apagaram e o mundo digital tomou conta, algo curioso começou a surgir: críticas frias, análises indecisas e comentários que parecem mais desmotivar do que celebrar.

A História do Filme

“O Agente Secreto” se passa em 1977, durante o carnaval de Recife. Marcelo (vivido por Wagner Moura) é um homem que foge de São Paulo com o objetivo de recomeçar longe do caos e das sombras do passado. Ele escolhe justamente o período mais festivo e colorido do ano para se mudar, numa tentativa de se integrar à cidade e encontrar paz. Porém, essa ilusão de tranquilidade dura pouco.

Logo, ele percebe que não escapou tão facilmente. Os vizinhos parecem conhecê-lo demais, olhares estranhos acompanham seu cotidiano e elementos perturbadores começam a invadir sua rotina. É um mergulho tenso em um Brasil ditatorial, mas sem perder o vínculo com a cultura local, com sotaques pernambucanos, tradições carnavalescas e um clima sobrenatural que flerta entre o real e o fantástico.

Do Fantástico ao Cotidiano Brasileiro

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Cléber Mendonça Filho construiu um universo visual rico e politicamente denso, mas permeado de simbolismos culturais. Inspirado em parte em suas próprias memórias de infância nos cinemas de Recife, o diretor mistura ficção política com lendas urbanas e superstição local. O resultado? Um filme que parece ser muito mais do que um thriller político — é um retrato do Brasil autoritário que, mesmo décadas depois, ainda ecoa.

Gregório Graziosi, co-ator e cineasta, destacou em entrevista à Band News TV que “o filme tem vida própria, com atores profissionais e não atores dividindo tela de forma natural, quase documental”. Essa mistura dá ao filme uma profundidade única, quase etnográfica, típica do estilo de Cléber.

Críticas Divididas: O Fogo e o Gelo

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Apesar do êxtase inicial em Cannes, o site Rotten Tomatoes trouxe uma surpresa nada calorosa. Com 100% de aprovação dos críticos no agregador, o filme foi elogiado pela crítica especializada. No entanto, algumas avaliações soaram distantes, quase indiferentes.

Um dos comentários mais polêmicos diz: “Running more than two and a half hours, this daring, structurally complex picture has enough going on to fill every phantom cinema in Recife.”

Uma análise ambígua. Ela pode ser lida como um elogio à riqueza narrativa e ao detalhamento visual do filme, mas também sugere que há “demasiado conteúdo”, talvez algo dispersivo ou excessivo. E isso, num mercado cada vez mais ávido por roteiros objetivos e dinâmicos, pode soar como uma crítica velada. Quase que se dissesse ‘é mais um filme aí para se passar em salas de Recife mesmo onde não tem ninguem’, alguns mais críticos viram assim.

Confira mais alguns comentários mornos e como foram entendidos por alguns.

🔽 Críticas Mornas / Neutras:

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  1. “Running more than two and a half hours, this daring, structurally complex picture has enough going on to fill every phantom cinema in Recife.”
    Análise ambígua : Pode ser lida como elogio à riqueza narrativa, mas também sugere que o filme é excessivo , confuso ou sobrecarregado . A menção aos “cinemas fantasmas de Recife” soa poética, mas pode indicar que há muitos elementos desconectados.
  2. “The very large supporting cast including Filha regular Udo Kier fill in all the blanks in this overlong — at 158 minutes — sometimes rambling scenario that Filha has nevertheless managed to infuse with style and wide screen excitement.”
    – A crítica reconhece o estilo e a ambientação, mas usa palavras como “overlong” (muito longo) e “rambling” (desorganizado, dispersivo), sugerindo que o filme pode cansar o espectador.
  3. “Kleber Mendonça Filho weaves [the subplots] slowly, relying on long and detailed dialogues. This is a film that simmers slowly.”
    – Embora não seja negativa, essa avaliação tem um tom neutro , quase descritivo. O uso de “simmer slowly” indica algo que não chega a ferver , ou seja, pode parecer lento ou pouco empolgante para alguns públicos.
  4. “Elegant, moody, and intense, The Secret Agent mines through the rubble of the past, reconstructing the beauty and terror of a time long gone but still haunting the present.”
    – Apesar do tom poético e até positivo, essa crítica soa mais distante , quase acadêmica, e não transmite emoção ou conexão real com a obra.

O Pessimismo Que Vem do Exterior

É curioso notar como o cinema brasileiro, principalmente aquele com forte identidade cultural e política, costuma gerar divisão fora das fronteiras nacionais. Enquanto plateias locais vibram com a representatividade e a densidade histórica, espectadores internacionais, muitas vezes, esperam uma linguagem mais universal, menos regional.

Isso não é novidade. Já vimos isso anteriormente com obras como “Bacurau” e até mesmo com “Ainda Estou Aqui” . Apesar disso, “O Agente Secreto” conseguiu ultrapassar essa barreira com maestria na Europa. Em Cannes, a emoção era palpável. A plateia aplaudiu de pé, enxergando na obra um retrato potente da resistência artística diante de regimes opressores.

Quando Chega ao Brasil?

Até agora, nenhuma data oficial foi anunciada para a estreia nos cinemas brasileiros. Especula-se que o filme possa estrear no segundo semestre de 2025, possivelmente em festivais importantes como Gramado ou o Festival do Rio.

Segundo Gregório Graziosi, “essa estratégia de lançamento via festivais é comum no trabalho de Mendonça Filho, que valoriza a construção de significado antes da exposição comercial imediata.”

No Brasil, o filme será distribuído pela Vitrine Filmes, responsável por outras obras autorais recentes. A expectativa é grande, especialmente após o sucesso internacional de “Ainda Estou Aqui” , que chegou ao Oscar.

Por fim: Entre o Triunfo e a Indecisão

“O Agente Secreto” é, sem dúvida, um marco do cinema nacional. Com uma direção marcante de Kleber Mendonça Filho e uma atuação sóbria e impactante de Wagner Moura, o filme dialoga com o passado, mas fala diretamente ao presente. Sua recepção em Cannes foi épica, mas seu caminho no cenário global parece exigir paciência.

O público brasileiro, já familiarizado com as nuances políticas e culturais do filme, tende a abraçá-lo com orgulho. Mas será que o mundo está realmente pronto para tanto conteúdo, tanta memória e tanta verdade? As críticas mornas deixam a resposta em aberto — e talvez esse seja o propósito: fazer o espectador pensar, sentir e refletir, mesmo que de forma incômoda.

Júlio César Alves Carneiro

Biólogo ,divulgador científico, Pesquisador, Redator.

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